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NOSSA GRANDE INCOERÊNCIA

Em qualquer encontro com pais e mães, quando perguntados sobre o que mais desejam para suas crianças, a resposta por trás de todas as respostas é, invariavelmente: desejo que elas sejam felizes. E quem não deseja? Quem não quer ver seus filhos plenos, realizados, resilientes, satisfeitos e engajados com a própria vida, construindo bons relacionamentos, vivendo muitas emoções positivas, encontrando sentido a cada momento da sua existência? Não é o que você deseja também? Não é o que todos desejamos?

Ao ouvir isto, alguém de outro planeta rapidamente concluiria: com certeza as escolas deste lugar dedicam grande parte do seu tempo a ensinar e prover recursos para que as crianças aprendam a cultivar os pilares da tal felicidade que eles tanto desejam. Só que não!

Com algumas poucas e incipientes exceções, o que oferecemos às nossas crianças por 12, 15, 20 ou mais anos de formação acadêmica está longe de prepará-las para os testes da vida.  Nós as preparamos para as provas do vestibular, as exigências do mercado de trabalho, os exames de proficiência, as formalidades do mundo coorporativo, mas os dados demonstram que todo este esforço tem sido insuficiente quanto ao objetivo principal de todos nós: ajudá-los a serem mais felizes. Haja vista o número assustador de casos de ansiedade, desengajamento, tristeza, depressão e até mesmo ideações suicidas entre jovens e crianças.

Usando a terminologia da Psicologia Positiva, estamos falhando quando se trata de ensinar e ajudar nossas crianças a cultivarem os pilares do bem-estar subjetivo. É como se disséssemos que o que mais desejamos na vida é que nossos filhos aprendam a se alimentar bem, mas não incluíssemos uma aula sequer sobre boa nutrição no currículo escolar deles.

É mesmo como se a gente acreditasse que não há o que ensinar, nem o que aprender na arte de ser feliz, ou seja, na arte de cultivar as bases do bem-estar subjetivo. No fundo a gente acredita que esta é uma “competência” que já nasce (ou não) conosco, ou que se aprende por osmose. “Deixemos por conta da vida”, “a vida ensina”, “quando casar sara”, “com o tempo ela aprende” – e coisas do tipo. No entanto, a Psicologia Positiva, que recebe o simpático título de ciência da felicidade, vem demonstrando que o cultivo desta felicidade, que preferimos chamar de bem-estar subjetivo, inclui modelos mentais e habilidades que, como tais, podem ser aprendidas e treinadas. Sim, treinadas!

Ora, se o que mais queremos é que nossos filhos sejam felizes; se a ciência já nos oferece ferramentas homologadas e rigorosamente avaliadas para desenvolvermos as tais habilidades;  se estas habilidades podem ser treinadas; se já há farta literatura e muitas cabeças pensantes dedicadas ao desenvolvimento integral dos potenciais humanos a partir do cultivo consciente e intencional dos elementos que levam ao florescimento, ao funcionamento ótimo, à vida em plenitude, aos altos níveis de bem-estar subjetivo e tudo de bom que tanto desejamos para os nossos filhos; se os primeiros anos de vida são definidores para o resto da existência deles e se nós os amamos tanto, então é claro que, em toda parte, papais, mamães, professores e professoras estão sendo educados, preparados, treinados para se tornarem agentes do florescimento de suas crianças, certo?

ERRADO!

Eis aí nossa grande incoerência.

Eu e outros valorosos parceiros nos dedicamos de corpo e alma tentando fazer a nossa parte neste esforço que deveria ser coletivo.  Aliás, sou dos que pensam que este trabalho precisa ser transformado em política pública – política de Estado, independente dos governos e dos governantes que vão e vem.

É o futuro dos nossos filhos que está em jogo. É o nosso futuro, o futuro da humanidade, que vem apresentando mais e mais sintomas de adoecimento físico, mental, emocional e espiritual.

Mas, voltando ao início, vejamos:

– O que mais desejamos para os nossos filhos em última instância?

– Se a felicidade deles é o destino, se continuarmos pelas rotas de sempre, é lá que chegaremos?

– Se a experiência demonstra que não, o que faremos?

Em nosso trabalho com as crianças e seus cuidadores, propomos alguns caminhos. Mas é necessário que os adultos presentes na vida das crianças estejam interessados. Em nossa experiência, fica evidente que os resultados são imensamente melhores e mais profundos quando há o engajamento da família, principalmente dos pais.

Que tal este movimento? Por um lado, preparemo-nos – papais, mamães, professores e professoras – para nos tornarmos agentes do florescimento das nossas crianças. Por outro, pensemos em maneiras de incluir o ensino do bem-estar subjetivo em todas as esferas das nossas estruturas sociais.

O que você acha? Faz sentido pra você? Vamos?

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Obrigado!

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Este post tem 2 comentários

  1. Neusa Fernanda Carvalho

    Concordo que é urgente que se torne acessível e prioritário o ensino dessas ferramentas tão importantes para o desenvolvimento emocional o mais saudável possível para nossas crianças. Que a ideia floresça, cresça, e que o quanto antes possamos desfrutar desse aprendizado, mais e mais!!

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