Por que ensinar o cultivo das Forças de Caráter já na infância e na adolescência é tão importante?
Há uma frase no livro O Poder das 24 Forças de Caráter (*) que merece ser analisada com carinho e sem pressa. O autor se refere às diferentes forças de caráter como se fossem sementes. Seguindo esta metáfora, ele argumenta que em cada pessoa, ainda que plantadas lado a lado, algumas destas sementes se desenvolvem mais do que outras, umas crescem mais rapidamente e outras permanecem modestas, ainda que resistentes. E nesta conversa imaginária com seu leitor, o autor afirma:
“É importante cuidar de cada uma delas, porque o que elas se tornarão será produto de sua natureza interna e do ambiente, mas também da atenção que tiver recebido. E cada uma delas faz uma contribuição para a paisagem local.” (grifos meus)
Mas como cuidar daquilo que eu nem ao menos reconheço?
Parece-me que boa parte de nós já admitiu a importância de ensinarmos as crianças a reconhecerem e nomearem suas emoções e sentimentos. Esta é a base da chamada Inteligência Emocional e considero um dos principais papéis dos papais, mamães e cuidadores em geral.
Ora, é igualmente importante que as crianças aprendam a nomear seus traços positivos, reconhecer, identificar e nomear suas forças pessoais, nomeadamente suas forças de caráter. Mais do que isso, é importante que elas aprendam a cultivar intencionalmente estes recursos internos, pois as pesquisas demonstram que, ao ativarem seus traços de caráter positivos, as crianças se tornam mais resilientes, lidam melhor com as frustrações e com os diversos fatores de estresse e encontram mais satisfação com a própria vida – algo fundamental num mundo com alarmantes índices de depressão e de suicídios.
Voltando à frase destacada acima, a equalização do nosso conjunto de Forças de Caráter ou, em outras palavras, a forma como aquelas sementes se desenvolvem em cada um de nós, depende da nossa natureza, ou seja, dos fatores genéticos, e das influências e estímulos do meio ambiente – os fatores epigenéticos. Mas, é influenciada também pela atenção que cada semente recebe, isto é, pela atenção que cada força de caráter recebe.
Considero este conhecimento altamente libertador. Pois além das forças que trago em mim por força da minha natureza interior e dos ambientes onde me desenvolvi, eu posso, se quiser e souber, escolher esta ou aquela força para cultivar mais pontualmente!
Estimular esta atenção de qualidade, este foco sobre os próprios traços positivos de caráter, é grande parte do nosso empenho junto às crianças e jovens. No trabalho com elas, seus pais e professores, eu sempre destaco duas palavras: conscientemente e intencionalmente. Se você pode agir conscientemente e intencionalmente para ajudar seus filhos a florescerem, por que não o faria? Se nós podemos ajudar nossas crianças a cultivarem conscientemente e intencionalmente suas forças de caráter, tornando-se mais resilientes, equilibradas e engajadas com a própria vida, o que estamos esperando? Afinal, não é tudo o que mais desejamos para elas?
Finalizando, quando o autor afirma que cada uma delas faz uma contribuição para a paisagem local, está tentando nos fazer visualizar o quão lindo seria este imenso jardim humano chamado Terra, povoado por pessoas mais bem resolvidas e cientes de suas potencialidades, no uso intencional e consciente de suas forças pessoais, podendo contribuir de forma original para o bem comum.
Não lhe parece um bom cenário? Faz sentido pra você? Então, vamos juntos?
(*) livro de Ryan Niemiec e Robert McGrath, lançado no Brasil em 2021 pela Editora Geniantis
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