Eu estava ouvindo um famoso palestrante usando argumentos diversos para vender seu novo produto digital que promete oferecer ferramentas de autoconhecimento e de inteligência emocional, fortemente ancoradas na neurociência, para levar as pessoas a uma vida de prosperidade em todos os aspectos.
Em dado momento, depois de falar das nossas dores tão humanas e levar a audiência a imaginar-se num futuro em que seus sonhos se realizarão, o candidato a guru lançou a seguinte provocação: “eu sei que você deve estar se perguntando – o que eu preciso fazer para me tornar esta pessoa de sucesso? Não é? Mas, acredite, você deve mudar esta pergunta para quem – quem eu preciso me tornar para ser uma pessoa de sucesso?”
Ok, pode ser (e provavelmente era) apenas uma questão de palavras, uma jogada de marketing, uma frase de efeito, mas eu fiquei cismando sobre aquela pergunta e sobre os riscos deste tipo de argumentação em tempos tão líquidos e superficiais quanto o nosso. Pensei em meu trabalho com as crianças e jovens, e nas conversas que travo com seus pais e mães e deu-me um certo aperto no peito imaginá-los à procura de um atalho deste tipo, buscando minha ajuda com esta pergunta nos lábios: “- Afinal, quem meu filho precisa se tornar para ser uma pessoa de sucesso?”
O problema é que esta pergunta carrega em si o embrião de um grande engano: a ideia de que devemos “moldar” nossos filhos, forçando-os a serem certo tipo de pessoa, pois, supostamente, é aquele tipo de pessoa que consegue ter sucesso hoje em dia. E para quem trabalha com os pilares da Psicologia Positiva, como eu, este seria o caminho certo para uma vida de murchamento, povoada de frustrações, identidades fragmentadas, vazio e falta de sentido, exatamente o oposto ao florescimento.
Seu filho, assim como cada pessoa deste mundo, precisa ser ele mesmo. “Torna-te quem tu és”, disse o poeta grego Píndaro, alguns séculos antes de Cristo, convidando-nos a revelar ao mundo a nossa essência, desenvolvendo nossas potencialidades, acessando e colocando em movimento nossas forças autênticas, nossos talentos, nossas inteligências, nosso jeito de ser e de sentir, que constituem nossa a singularidade, pela qual podemos contribuir com o mundo de forma criativa e original.
Ninguém alcança a plenitude tendo de se tornar outra pessoa.
Sim, eu sei, o palestrante falava em ter sucesso e estou falando em bem-estar, plenitude, florescimento, felicidade. E sabe por quê? Por que para mim, e para todos os cientistas, pensadores e pesquisadores da Psicologia Positiva, por muitos chamada de ciência da felicidade, ser uma pessoa de sucesso significa justamente chegar ao florescimento, ou seja, alcançar um estado de bem-estar duradouro, baseado em emoções e relações positivas, engajamento em atividades significativas, propósito e realização pessoal, num processo de amadurecimento consciente e intencional da sua singularidade, pelo cultivo e pela expressão de seus potenciais, de seus talentos, de suas forças de caráter, ao mesmo tempo em que se integra e contribui para o bem-estar coletivo.
Faz sentido pra você?
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